Associados em destaque - Fazenda Califórnia está entre as cinco grandes propriedades mais sustentáveis do Brasil

Sob gestão do casal Flavia e Luiz Roberto, associada à BSCA se destaca pelo legado ambiental e social, especialmente com mulheres e crianças, propagado ao mundo todo.


Com adoção de boas práticas agrícolas e agricultura regenerativa em todo o ciclo produtivo do café; incremento no teor de matéria orgânica no solo, reaproveitando, inclusive, resíduos do processamento; emprego do Manejo Integrado de Pragas e Doenças, reduzindo uso de pesticidas, herbicidas e fertilizantes; otimização no uso e reuso da água em toda a atividade; garantia de nutrição e não de fertilização por meio de Sistema Integrado de Recomendação e Diagnóstico; e implantação de sombreamento arbóreo e cobertura do solo.

 

Foi dessa maneira que, nos últimos 20 anos, o casal Flavia Jacob e Luiz Roberto Saldanha Rodrigues mudaram o patamar da Fazenda Califórnia, em Jacarezinho, no Norte Pioneiro do Paraná, e a fizeram ser reconhecida, em cerimônia no dia 17 de setembro, em São Paulo (SP), como uma das cinco mais sustentáveis do Brasil em 2024, na categoria "Grandes Propriedades" do Prêmio Fazenda Sustentável, realizado pela revista Globo Rural.

 

Em 2004, chegavam à Califórnia, fazenda com história superior a 100 anos, os recém-formados em Engenharia Agronômica e recém-casados, Flavia e Luiz, que se depararam com uma propriedade adquirida recentemente e que se encontrava com problemas financeiros e em ciclo de degradação social e ambiental da gestão anterior. A governança socioambiental (ESG) ainda não estava em voga como agora, mas, já naquela época, eles montaram um planejamento ambicioso, que pretendia transformar a propriedade em referência mundial de produção sustentável em qualidade e em normas de certificação, potencializando o viés ambiental e social.

 

“Quando chegamos, em 2004, ainda não tínhamos trabalhado com café e nunca gerido uma propriedade. Fomos aprendendo durante o caminho e uma das coisas que nos trouxe muita clareza dos rumos a serem seguidos foram as certificações agrícolas. Esse é um ponto que coloca a cafeicultura brasileira, principalmente os cafés especiais, bastante na vanguarda desse movimento de sustentabilidade dos três pilares, então, já em 2006, certificamos a fazenda pela primeira e aprendemos muito sobre boas práticas, rastreabilidade, questões ambientais e sociais, respeito a leis e a começar a montar planos de trabalho, colocando custos no papel, etc. A UTZ foi a primeira certificação e grande escola. A evolução dessa certificação é a Rainforest Alliance, que conquistamos em 2014, então completamos nosso 10º ciclo dessa certificação, o que fez subir ainda mais a régua e os standards de produção sustentável nas diferentes esferas da propriedade”, relata Luiz Roberto.

 

Atualmente, o casal percebe que, muitas das coisas que fizeram no passado, estão alinhadas com as demandas contemporâneas. “Temos um sistema de gestão ESG implementado na fazenda, que está alinhado com os Objetivos de Desenvolvimento Sustentável da ONU. A Flavia fez um MBA trazendo todas essas ações que fizemos na fazenda nesses 20 anos e checando isso com os ODS. Isso vem desde o começo, com a reposição de matas ciliares e uma parceria com o Instituto Ambiental do Paraná, através da qual plantamos mais de 70 mil árvores nativas e, hoje, quase 20 anos depois, vemos, por imagens de satélite, as áreas recompostas, bem como compactação, reestruturação de solo, agricultura de precisão para correção química, recomposição de áreas de Reserva Legal, zerando a erosão, ou seja, um grande trabalho de manejo químico, físico e biológico”, narra o marido.

 

Em relação ao café, a Califórnia possui uma visão 360, mais holística, para contribuir com o que considera um dos maiores gargalos no Brasil, que é a pós-colheita. Pelo fato de o Norte Pioneiro do Paraná ter chuva na colheita, parecido com a América Central, o casal adota o sistema via úmida e implantou um projeto, desenhado por um consultor da Costa Rica, de produção mais limpa.

 

“Fazemos toda coleta, filtragem e tratamento de água, a separação de casca e polpa e isso é compostado para fazer biofertilizantes dentro do equilíbrio que as áreas pedem. Todos os resíduos da produção são reutilizados, de maneira adequada e, tecnicamente, voltam à lavoura, o que é um grande diferencial. Também há o emprego de agricultura regenerativa, com análise química, física e biológica do solo para balanceamento dos microorganismos, manejo integrado de pragas e doenças, agricultura de precisão, com análise por meio de georreferenciamento, plantas de cobertura, recomposição de corredores ecológicos, tudo isso trazendo mais biodiversidade”, revela.

 

Luiz Roberto completa que a propriedade também possui uma biofábrica, com protocolos bastante rigorosos, por se tratar de instalação em propriedade rural, o que permite que produzam seus próprios biológicos. “Fazemos a análise disso em laboratório, o que nos permite reduzir o uso de produtos químicos e a gente tem utilizado bastante a questão dos biológicos no manejo de cultivos e na bioativação do solo, tornando nossa produção cada vez mais sustentável”, comenta.

 

Concomitante aos investimentos ambientais, o casal também se preocupou com a relevância social de seu trabalho, que consideram o pilar mais forte de atuação. “Temos uma parceria com o Sistema FAEP/Senar, o que nos possibilita demandas constantes de cursos e treinamentos em diferentes áreas, desde uma calibragem de pulverizador, programa de manejo integrado de pragas e doenças, capacitação de poda até os treinamentos mais complexos e elaborados que a plataforma tem, como ‘Mulher Atual’, ‘Kaizen’, ‘Desenvolvimento de lideranças’... a gente traz tudo para cá, desde o nível operacional e de gestão até o estratégico”, aponta.

 

Conforme Luiz Roberto, essas qualificações foram dando uma visão diferenciada à Califórnia sobre a possibilidade de impacto na comunidade. Foi assim que, há quatro anos, criaram um projeto chamado "O futuro em nossas mãos", coordenado pela esposa em parceria com secretarias de Educação de municípios ao redor da fazenda, que recebe, mensalmente, escolas para fazer um programa de educação ambiental com as crianças.

 

“A Flavia está envolvida com o ‘Programa de Olho no Material Escolar’, por causa de nossas filhas. Ela começou a ler o que estava sendo colocado sobre o agro e a fazer esse contraponto de buscar parcerias, trazer as crianças à fazenda e mostrar realmente o que é uma produção agrícola sustentável, com manejo de solo e resíduos, controle de erosão, compostagem, recomposição de mata ciliar, manejo de recursos hídricos, etc. Isso tudo é trabalhado aqui com uma intensidade bem alta, com três a quatro grupos de escola todo mês na fazenda, orientando as crianças sobre a realidade produtiva”, celebra.

 

O marido recorda que, desde que a esposa ganhou o “Prêmio Mulheres do Agro 2023”, como gestora ESG, no Congresso Nacional das Mulheres do Agro, a fazenda e Flavia ganharam muita credibilidade e visibilidade no Estado, o que possibilitou que ela fundasse a Comissão das Mulheres do Agro de Jacarezinho, junto com a FAEP. “Hoje, a California serve de exemplo em gestão, indicador benchmark de produção sustentável e está muito próxima ao grupo de mulheres, que vão à fazenda fazer capacitação, além de a Flavia expandir esse exemplo de gestão de propriedade ESG, já absorvido pela comunidade local, a todo Estado do Paraná”, diz.

 

Com o atendimento aos critérios ESG desde o início, a Califórnia se tornou referência para a região e vem auxiliando na propagação desses quesitos socioambientais, deixando seu legado. “A quantidade de visitantes que recebemos do mundo todo nos permite propagar essa mensagem do agro sustentável de verdade, bem-feito, com critério técnico, apoiado nos três pilares da sustentabilidade. Há também o impacto com as crianças e as mulheres das comunidades locais, que é uma herança que vem sendo construída desse trabalho, a qual é incomensurável”, comemora.

 

“No começo – lembra Luiz Roberto –, a gente achava que podia mudar a fazenda. Depois, pensamos que poderíamos impactar a região, mas, hoje, vemos que o impacto disso é muito maior. Nos destacamos pela qualidade do café, mas não é qualidade a qualquer custo. É muito respeito e desenvolvimento humano, respeito e desenvolvimento ambiental e adoção de práticas mitigadoras de emissão de carbono e de evento climático extremo, com um olhar de futuro e para o futuro da cafeicultura”, afirma.

 

Ele conclui que é gratificante recordar que, ao chegarem a uma fazenda centenária, com importância histórica ao Estado do Paraná, terem sido visionários e assertivos no que desejavam à gestão transformou o cenário encontrado e colocou a Califórnia entre as cinco grandes propriedades mais sustentáveis “desse continente” que é o Brasil.

 

“É difícil expressar a alegria disso por mim, pela Flavia e pelas nossas filhas, que estão vendo e são parte desse processo, dessa transformação. Com a visão de membros da BSCA, integrantes do Conselho e duas vezes estando entre os vencedores internacionais do Cup of Excellene, a gente sabe o tanto que o Brasil é preparado para atender às novas exigências do comércio global, como o Regulamento da União Europeia para Produtos Livres de Desmatamento, mas temos toda essa dificuldade de comunicação. Acredito que, via cafés especiais, via cafeicultura, via mais prêmios como este, a gente consiga comunicar melhor nossos processos produtivos e sustentáveis, apresentando a realidade do trabalho e o potencial do nosso impacto à sociedade como um todo”, finaliza. 


Publicado: 23 Sep 2024 13:29 -0300
Atualizado: 23 Sep 2024 13:29 -0300



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